27.6.12

«Esconjuro e Conciliação» de Levi Condinho


Em novo ia de burro à praia e mais tarde de camioneta para ir ao cinema. A escrita beatnick de Levi Condinho cresceu no Bárrio, Alcobaça, passou pela praia e foi parar à música. Sobretudo ao jazz - música conspirativa e subversiva, como a define. Arrancou para a cidade grande, ainda antes do 25 de Abril, entrou no partido e escreveu: foi jornalista, cronista e empregado bancário. Publicou poemas.
Há pelo menos 4 referências à praia lidas na antologia «Roteiro Cego», livro publicado em Alcobaça, em 2001. Na revista Colóquio/Letras também. Eis um excerto de um dos poemas em que a praia se mistura com o resto:


Esconjuro e Conciliação

(...)
ah a porta é tão vaga andrógina epicena e tudo é tão de pranto
                  tão frenético, tão simples e complicado
apesar de tudo amo esta grande aposta este repto
                  que me lançam vagamente
para sentir como se Kafka voltasse ao mundo para morrer
                                                                   de novo incógnito
não esqueço nem os barcos da Nazaré nem o Benfica da Taça Latina
o meu avô e o barrete e o copo de vidro grosso cheio de sarro
porque ainda aí o mal entendido da memória não se
                    confundiu com salazarismo
                                                           - quem dera que lesses isto oh Ruy Belo
podia falar de cabaços picotas charruas trilhos espigueiros
                                                                           palheiros da minha carne tenra
Marylin da masturbação adolescente - Bill Halley na juke-
                                                           -box no Rossio de Alcobaça
(...)



Roteiro Cego
Levi Condinho
Rebate, Alcobaça, 2001