8.4.12

«Presépio Tradicional da Nazaré» de Inês Dias

Porque o amanhã já começou.
Veio com um telefonema,
sem deixar dormir a véspera
ou sonhar uma espera diferente.

Instalou-se de costas para nós,
mais o seu cortejo de sintomas:
pastoras de rigoroso negro
como velas apagadas,
um pouco de sangue no nariz,
mãos afinal iguais, vazias.

Já não sobra tempo, no meu corpo,
para outra vida. Mas se lhe forçassem
uma canção de embalar, seria apenas
o arco exacto entre o cemitério cobiçado
pelas ondas e a beleza desamparada
de um penhasco a desmoronar-se
eternamente sobre o mar. E eu no fundo.

Inês Dias
in arquivo de cabeceira