2.12.12

«Fortaleza» de António Borges Coelho

Neste livro anunciam-se na contracapa poemas reunidos que "destapam um rosto, mas descobrem também a muralha. O rosto singular valerá porque emerge, melhor ou pior, de um vasto mural colectivo." E acrescenta que o itinerário do poeta e dos poemas é Aljube, Caxias ou Peniche. Foi justamente no Forte de Peniche (antiga cadeia do Estado Novo) que o então preso político António Borges Coelho, autor deste "no mar oceano", escreveu o poema "Fortaleza". Nele se reclama esperança para os que foram detidos em nome da liberdade. Dentro da prisão avistava-se a Nazaré e era por isso que o autor não perdia a fé. Corria o ano de 1959.


FORTALEZA

Ao comprido na cama de ferro
as paredes de costas voltadas
em brancura neutra
ouço o coração a dar pancadas.

Pareço um morto
morto vigiado por um buraco
e que mesmo deitado no jazigo
pode sumir-se pelo chão opaco.

- António não percas a fé.
Em dias claros vê-se a Nazaré. -


no mar oceano
António Borges Coelho
Editorial Caminho, Lisboa, 1981