2.6.18

Zé Petinga, o homem que não pára de escrever

«Esta é a verdadeira história de Zé Petinga, o homem que não parava de escrever». A imagem assim escrita por Henrique Manuel Bento Fialho, no início de uma das histórias do seu mais recente livro, é o mais fiel, simples e absoluto retrato do Zé Petinga. Nada mais se poderá dizer dele, pelo menos quem se cruza com ele nas esquinas e ruas da Nazaré. Henrique, no entanto, revela mais. E faz dele personagem até de uma outra história que contracena com Taranta (quem é do Sítio reconhece o nome). Mas é na página 227 do livro «A Festa dos Caçadores» que está este «amante de baronesas a tempo inteiro». Não uma biografia completa, é somente um relato com expressão do que o homem pode ser. Um breve diálogo e destreza de imaginação, um lirismo que compromete todos os seus amigos, uma vida contada sob um nome, mas que tem vários mundos lá dentro. De resto, vale a pena ler as mais de 330 páginas deste livro escrito por um autor que também erra pelas esquinas quando o vento o empurra até à praia. Henrique gosta de beber vinho com letras, gosta da Biblioteca da Nazaré, gosta. E aquele que continua sem parar de escrever também por lá anda. Sabe-se que tem apenas um título publicado na extinta editora non nova sed nove que sobreviveu uma vintena de anos a olhar p´ró mar.

Sabe-se que mordeu o isco da palavra como um peixe incauto morde a minhoca. Ficou com a garganta presa ao anzol das letras. A toda a hora o Zé Petinga escreve, escreve, escreve e redemoinha sobre o que escreve escrevendo.Tem milhares de páginas manuscritas, arrumadas em caixotes que lhe atafulham o quarto onde já nem dorme só para poder continuar a escrever. Vive sozinho com os seus caixotes de palavras, frases inteiras, poemas, contos, páginas sem nexo aparente, saídas dos dedos ao ritmo da água numa nascente.

A Festa dos Caçadores
Henrique Manuel Bento Fialho
Abysmo, 2018  

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