23.7.22

Imaginação de portas abertas

Estão abertas as «portas da imaginação» na Nazaré. A 47ª Feira do Livro da Biblioteca da Nazaré está no Centro Cultural com milhares de livros e uma excelente programação ao longo das próximas três semanas:  

JULHO

23 (sábado) – 16h, apresentação do livro “Perigoso Pacifista – Histórias de Adriano Correia de Oliveira”, banda desenhada de João Mascarenhas e Paulo Vaz de Carvalho

26 (terça) – 21h30, apresentação do livro “ Vermelho – vidas contadas e algumas reflexões partilhadas de seis comunistas portugueses” de Isabel Maria Ferreira

27 (quarta à tarde), apresentação do livro infantil “A menina que ganhou o mar” de Ana Filipa Correia, com workshop juvenil de pintura e exposição das ilustrações do livro

29 (sexta) – 21h30, apresentação do livro “À Espera de Beckett ou Quaquaquaqua” de Jorge Louraço

30 (sábado) - 16h, apresentação do livro “Nazaré mosaico de terra e mar” de José Soares

AGOSTO

3 (quarta) – 21h30,  homenagem aos 50 anos da obra “Novas Cartas Portuguesas” de Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, com declamação expressiva de excertos da obra

4 (quinta) - 21h30, apresentação do livro “Arte, Museus e Memória - A Imagem Marítima da Nazaré” de Dóris Santos

5 (sexta) – 21h30, apresentação do livro “As sombras de uma Azinheira” de Álvaro Laborinho Lúcio

6 (sábado) - 21h30 – apresentação do livro “Literatura de viagem sem sair do mesmo lugar” de AM Catarino

12 (sexta) – 21h30, apresentação do livro “Os jornais da Nazaré e o seu tempo 1899-1926” de Júlio Murraças

13 (sábado) – Sessão de autógrafos e promoção da obra poética “Nazaré no seu olhar” de Gonçalo Diamantino

27.2.22

Na pesca do bacalhau

Há muitos relatos sobre a dureza do trabalho na pesca do bacalhau na Terra Nova e na Gronelândia. Houve um época em que se mostrava o trabalho braçal dos pescadores portugueses nos mares da costa americana, quer em filmes, quer em relatos de reportagem. Na maioria dos casos, realidade aproveitada para o regime do Estado Novo mostrar ao mundo o quão destemidos e fortes eram os pescadores portugueses. Imagem, naturalmente,  roubada ao esforço e à precariedade laboral que então se vivia. Surge agora um relato na primeira pessoa: Guilherme Piló, nascido na Nazaré, em 1942, pescador do bacalhau desde os dezassete anos (em 1960). Descendente de homens do mar, cedo se interessou pela pesca, tendo vivido com a família em Matosinhos, Leça e Vila Chã. O livro «Homens sem coração» é um relato autobiográfico das viagens e dos perigos da pesca do bacalhau. Com palavras duras e de dedicação ao mar, Guilherme Piló, descreve a «epopeia» vestida de «surrobeco, castorina e caxemira» para que se aguentasse a viagem que duraria desde Abril até finais de Setembro. Sempre no mesmo barco. Com «algarvios, nazarenos, os da Figueira,...os da Póvoa e das Caxinas...» Gente que fechava os corações «dentro do guarda-vestidos» e que se fazia à vida, deixando mulher e filhos à espera do regresso com dinheiro para a sobrevivência. A viagem descrita neste livro foi feita a bordo do São Rafael, «navio com sessenta e dois metros de comprimento, com o castelo da proa bem levantado, com uma passarela tipo ponte para se passar da proa para a popa, dois mastros altos e um espardeque, que era onde os dóris iam encaixados...».Ao longo desta centena de páginas, o autor lembra como eram as despedidas em Lisboa, a viagem até aos Grandes Bancos da Terra Nova, a lide da pesca a bordo de um dóri, os sustos que as névoas e o mau tempo provocavam, as perigosas «ilhas de gelo» como chamavam aos icebergs, o tratamento que se dava aos mortos no mar. E é por tudo isto que a memória de Guilherme Piló atravessa com palavras, às vezes cruas e frias, um trabalho de gente que por mais tristeza e dureza visse naquele ofício, «no ano seguinte lá estavam todos a responder à chamada. Eram homens sem coração, que nome lhes podemos dar senão esse, pois se já nasciam com o mar no sangue?»

Homens sem coração
Guilherme Piló
edição Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2021



9.12.21

As várias cores do amanhecer

É o primeiro livro do fotógrafo Samuel Fialho. Nascido na Nazaré há 36 anos e formado em Jornalismo, o também conhecido por «semisse», reuniu uma série de fotografias que mostram a costa portuguesa, desde Peniche a S. Pedro de Moel, mas é a Nazaré que se destaca neste livro. «Dawns» é um volume de capa dura, com pouco mais de 100 páginas em que se revela um trabalho de seis anos (desde 2015). E é um «novo começo», diz o autor que começou por fotografar e revelar a preto e branco na escola secundária, tendo perdido o interesse pela fotografia quando o digital invadiu esta arte. Conciliado com a imagem, esta retoma mostra-nos o que o amanhecer expõe com a luz vinda do lado do S. Brás ou os nevoeiros que transformam a praia em espelhos de água. As cambiantes da cor quando o vento beija o mar e o levanta, as sombras desenhadas pelas dunas ou pelas gaivotas que as sobrevoam. Embalado pelo «cantar estrondoso das ondas», Samuel Fialho capta momentos que jamais se repetirão. Não será esse o desafio da fotografia? Ver o que à vista desarmada os olhos não conseguem fixar? Vale a pena perdermo-nos com os olhos postos naquelas imagens em que a rebentação desenha corpos estranhos ou nas tonalidades laranja dos céus que imitam fogos e, sobretudo, no fusão dos elementos que pousam, como num palco, sobre a areia transformando-a num pedaço de um qualquer metal precioso irradiando luz.


Dawns
Samuel Fialho
edição de autor, Nazaré, 2021

25.11.21

Poemas para Mário Botas

Não serve para comemorar datas redondas, nem aniversários, nem coisa nenhum a não ser o criador, o poeta, o pinto. A colectânea de poemas dedicados ao artista Mário Botas, editada em Setembro pela volta d' mar e pela Biblioteca da Nazaré, transporta-nos para os diversos caminhos que a visão das obras dele nos leva. E cada um dos 43 autores (42 poetas e 1 ilustrador) oferece ao leitor as paisagens onde se pode falar dele. O livro parte de uma resposta de Mário Botas, numa entrevista ao Notícias Médicas de Abril de 1980, em que dizia que «Só podemos falar verdade quando falamos de nós mesmos...Posso falar de mim no céu de uma paisagem ou quando me sinto transportado dentro de um poema ou de uma ideia.». E a partir deste mote, os autores criaram caminhos diversos. Reúnem-se neste volume poetas já com obra de relevo na poesia portuguesa, novos, amigos do pintor, autores pouco conhecidos, mas todos com uma complementaridade de olhares sobre o que Mário Botas nos deixou: uma travessia longa, feita de nuvens que sobrevoam terrenos desconhecidos, uma aproximação ao contrário do que os mares nos dizem, um palco de cenas que tendem a ser infinitas. Este livro não deixa morrer o Mário Botas. Celebra-o fora das datas do nascimento ou da morte, dos palcos culturais, das gravatas. 


Falar dele no céu de uma paisagem - poemas para Mário Botas 
A. Dasilva O. | Amadeu Baptista | Ana Paula Inácio | António Cabrita | António de Miranda | Carlos Alberto Machado | Catarina Santiago Costa | Helena Costa Carvalho | Henrique Manuel Bento Fialho | Inês Dias | Jaime Rocha | João Alexandre Lopes | João Paulo Esteves da Silva | Jorge Velhote | Jorge Vicente | José Ricardo Nunes | Levi Condinho | Luis Manuel Gaspar | m. parissy | manuel a. domingos | Margarida Vale de Gato | Maria F. Roldão | Maria João Cantinho | Marta Chaves | Miguel Cardoso | Miguel de Carvalho | Miguel Manso | Miguel Rego | Nicolau Saião | Nuno Moura | Paulo Correia | Raquel Nobre Guerra | Ricardo Marques | Rita Taborda Duarte | Rosalina Marshall | Rui Almeida | Rui Pedro Gonçalves | Rui Tinoco | Sandra Costa | Sónia Oliveira | Teresa M. G. Jardim | Vasco Gato
capa e ilustrações de Alexandre Esgaio
edição conjunta volta d’ mar e Biblioteca da Nazaré que celebra os 10 anos da editora, Setembro 2021

26.7.21

A Feira está de regresso

 

Já começou mais uma Feira do Livro da Biblioteca da Nazaré. Este ano - tal como em 2020 - com algumas restrições devido à pandemia. Nesta 46ª edição, a Biblioteca anuncia que «serão apenas permitidos dez visitantes em permanência no espaço da Feira, que terão que cumprir as regras de distanciamento, uso obrigatório de máscara e desinfeção das mãos durante o seu trajeto pelo espaço. As razões já identificadas também limitam o horário de abertura ao público. Assim, a Feira do Livro funcionará todos os dias das 14H às 19H e das 21H às 22H30» no Centro Cultural da Nazaré (antiga Lota). 

Na programação, teremos dia 7 de Agosto, pelas 21h, leitura dos livros «à frente do mar» e «norte, falca e légua» pelo autor nazareno m. parissy que estará disponível para conversar com leitores; e no dia 14 de Agosto, pelas 21h, estará na Feira o escritor José Luís Peixoto.

Além da programação, está disponível na Feira a nova edição do «Andarilho» o boletim cultural da Biblioteca da Nazaré, com participações de Alexandre Isaac, Hélia Correia, Jaime Rocha, João Delgado e Vasco Sousa. Também com edição gratuita online. Pode-se consultar aqui.

30.1.21

As ondas da Praia do Norte

O despertar para as ondas da Praia do Norte e para a prática do surf em ondas gigantes, acordou também o olhar de muitos entusiastas da fotografia, quer desportiva quer de dimensão artística. O livro que acaba de ser disponibilizado pelo autor Ricardo Bravo enquadra-se numa dinâmica que atravessa vários estilos, tendo as ondas gigantes como foco e algum olhar para o enquadramento da localidade: o porto de abrigo, as ruas, as pessoas. Tudo junto dá um livro de enorme qualidade documental e artística. Ricardo Bravo diz que decidiu «aproveitar o tempo livre para reunir em livro algumas das minhas melhores fotografias da Nazaré». O livro «Nazaré» tem uma ideia central pensada pelo autor e que definiu como «o contraste entre a pacatez da vila e o caos que rodeia os surfistas no mar» para construir uma «narrativa visual em torno dos testemunhos de três grandes nomes do surf de ondas grandes - Andrew Cotton, Alex Botelho e João de Macedo». E assim, além das belíssimas imagens, há textos que partilham a fúria que é entrar no mar para desafiar aquelas que são consideradas «as maiores e mais perigosas ondas do mundo».

Ricardo Bravo é um lisboeta que vive em Paço de Arcos, Oeiras e fotografa «em terra, na água e no ar». Este livro mostra o olhar dele sobre as ondas gigantes da Nazaré em mais de 100 páginas, num volume de capa dura e com impressão em papel couché mate de 170g. Livro que foi publicado em finais de 2020 com ajuda de amigos e leitores que adquiriram a obra num projecto de crowdfunding.


Quando estás na merda, não há nada que possas fazer. São meses, anos, de treino para estares pronto para a pior das situações, mas quando estás debaixo de água a ser esmagado pelo peso do oceano, tens que te deixar ir. E não pensar em nada, zero! Não há um centímetro que seja do meu corpo a lutar contra aquilo!

Andrew Cotton



Nazaré
Ricardo Bravo
com depoimentos de Andrew Cotton, Alex Botelho, João de Macedo, João Valente e Pedro Adão e Silva
edição do autor, Dezembro 2020

14.11.20

Os jornais da Praia, do Sítio e da Pederneira

Há muito que o autor havia prometido escrever sobre os jornais da praia. Aí está, o trabalho demorou, a pesquisa foi aturada por natureza do manuseamento de velhos papéis, mas chegam agora ao público «Os Jornais da Nazaré e o seu Tempo» que tem o espaço temporal entre 1899 e 1926. O autor justifica o início com a edição do primeiro número do «Correio da Nazareth», primeiro jornal que ali foi editado e o fim com o golpe militar de 28 de Maio de 1926, «por representar o nascer de uma nova ordem política que, gradualmente, se imporia ao país». Júlio Murraças detalha com precisão os tempos históricos (não fosse ele licenciado em História) e retira dos diversos jornais as notícias mais indicadoras dos tempos que se foram vivendo na Nazaré. As atribulações da queda da monarquia, os diversos quadros  políticos que se impuseram aos pescadores, as governações, ora da Pederneira, ora da Nazaré, as comissões locais dos partidos que o princípio do séc XX viu nascerem, enfim, a ebulição política e social que os jornais retratavam na época. É sobretudo no capítulo II deste volume que assenta essa transição da monarquia para a república e a consequente representação partidária na Nazaré. E depois, a grande mancha do livro está no capítulo seguinte em que se detalham os títulos que foram saindo das tipografias: Correio da Nazareth, O Povo da Nazareth, A Nazareth, O Futuro, O Sítio da Nazareth, Revolucionário, etc. Encontramos as notícias sobre a tão desejada construção de um porto de abrigo ou do paredão frente ao mar, as sociais visitas de ilustres portugueses por alturas do Verão, os naufrágios de embarcações e o desaparecimento de muitos pescadores, as eternas disputas pelo poder ou o também eterno concurso para a construção e exploração dos caminhos de ferro entre a Nazaré e Tomar. Além disto, há uma secção de biografias nazarenas que ajuda a enquadrar quem foi quem, naquela época.


Antes, e primeiro que a capital de distrito, Leiria, os republicanos da Nazaré proclamam a República e ocupam os lugares na administração municipal. «Às duas horas da tarde do dia 6 de outubro de mil novecentos e dez, nos Paços do Concelho da Pederneira, onde às onze horas da manhã d'esse mesmo dia havia sido proclamada a República Portuguesa...» é nomeada por aclamação uma Comissão Administrativa composta na totalidade por republicanos.

Os Jornais da Nazaré e o seu Tempo - de Janeiro de 1899 a Maio de 1926
Júlio Murraças
M.AR: Músicas & Artes, Nazaré, 2020 

2.5.20

Sabes aquela do cavalo de D. Fuas?

Há uma inquietação ao longo deste livro: Qual era a cor do cavalo de D. Fuas? Respostas há muitas, diversas, súbitas como são as respostas que estão sempre na ponta da língua das pessoas da praia. A pergunta tem origem numa carta encontrada no Arquivo da PIDE/DGS, dirigida ao cardeal Cerejeira, de certeza pela mão de um nazareno. O autor de «Estórias Nazarenas», Júlio Murraças, sendo ele um praieiro de gema, foi caçando verdadeiras pérolas do linguarejar nazareno e juntou-as neste volume: a visita da Rainha de Inglaterra comentada pela má língua da praia, as aventuras de um soldado nazareno na guerra de Angola, outras da pesca do bacalhau, estórias de viagens, amores e desamores, enfim, ao longo de mais de 100 páginas, Júlio Murraças comete o que muitos gostam de contar e fixou tudo na escrita. «Estórias Nazarenas - se não é verdadeiro... 'tá bem caçado» foi ilustrado por Zé Oliveira. Na apresentação do livro, em Lisboa, o jornalista Viriato Teles deu conta do propósito de juntar estórias de um povo,


Na morte de Alves Redol

- À Tonhe morreu o Alves Redol.
- Quem?
- O Alves Redol!
- O Alves Redol???
- Sim, o Alves Redol. Não sabes quem é?
- Assim de momento, não.
- Não??? Sinceramente...
- Não sei quem é. Não posso saber tudo, não é?
- Olha, à Tonhe, era treinador do Benfica.
- Ai isso é que não era, isso é que não era!
Conheço-os todos, todos, desde o princípio...
- Sabes o que digo? Tu com essa inteligência devia morar num primeiro andar, em vez do rés-do-chão no Pátio da Pinta.

Estórias Nazarenas
Júlio Murraças
ed. autor/Mar Músicas&Artes, Nazaré, 2014

2.9.19

O juiz e escritor da praia

O escritor Álvaro Laborinho Lúcio voltou à Nazaré nas páginas do Diário de Notícias. Entrevista ao antigo juiz e ministro, a propósito do novo livro «O Beco da Liberdade». Trata-se do terceiro romance escrito por este nazareno que mantém a memória viva dos tempos de escola e de teatro na Nazaré. Na entrevista, recorda a ida para a escola dos «pés descalços» em vez dos «pés calçados», as amizades que ainda mantém, o mundo da pesca do lado do pai e o teatro.

Estamos a falar de meados da década de 50 do século passado e a Nazaré vivia muitas dificuldades económicas. Havia uma distinção muito cerrada entre o pé calçado e o pé descalço - basta dizer que a escola terminava na quarta classe. Eu próprio tive de sair de lá para continuar a estudar. Quando chegou a altura de ir para a escola, muitos dos meus amigos acabaram por convergir para a escola da Dona Virgília: não se pode dizer que esta fosse a escola dos pés calçados e a outra a dos pés descalços, mas o que acabou por acontecer foi que a maioria dos pés calçados acabou por ir para a escola da Dona Virgínia. Lá em casa colocou-se essa questão e foi o meu pai quem decidiu...

Diário de Notícias - edição online
entrevista de Paula Freitas Ferreira
2 Setembro 2019

16.7.19

Os livros estão de volta à praia

Os livros estão de volta à praia. No próximo dia 19 de Julho, abre a 44ª edição da Feira do Livro da Biblioteca da Nazaré. Nessa noite, simultaneamente, será inaugurada a Exposição de Ilustrações sobre a vida e obra do escrito e Nobel da Literatura José Saramago. A Fundação José Saramago é entidade parceira da Biblioteca da Nazaré, nesta 44ª Feira do Livro.

Na programação até meados de Agosto, teremos, sempre às 21:30:
20 de Julho - apresentação do livro «Era uma Classe - biografia de Silvino Marques Pais da Silva» de Mário Galego, com a actuação de músicos ex-alunos do guitarrista nazareno;
24 de Julho - abordagem à obra «O Silêncio dos Livros contra o Ruído do Mundo» da responsabilidade da editora Alma Azul;
25 de Julho - apresentação do livro e leitura encenada de «O Estendal e outros Contos» de Jaime Rocha;
26 de Julho - apresentação da obra «Peregrinação Crioula» de Paulo Branco Lima;
27 de Julho - apresentação do livro «Roubar ao Mar» de Alexandre Esgaio (ilustração) e Carmen Zita Ferreira (texto);
2 de Agosto - apresentação do último livro da saga «Os aventureiros» de Isabel Ricardo Amaral; 
3 de Agosto - Senos da Fonseca abordará a temática da pesca do bacalhau com a obra «Os Últimos Terranovas Portugueses»;
9 de Agosto - apresentação do livro «Saudade» de António Catarino.

44ª Feira do Livro da Biblioteca da Nazaré
Centro Cultural da Nazaré
19 Jul - 11 Ago 2019

4.6.19

Os poetas foram molhar os pés ao mar da Praia

É uma imagem para a história das artes literárias na Nazaré. Nas celebrações dos 80 anos da Biblioteca da Nazaré, a colectividade realizou o primeiro Nazaré.Poesia.Abril. Um encontro de poetas que durou dois dias: 31 de Maio e 1 de Junho, com sessões na Biblioteca da Nazaré, no Café Jazz (antigo Tabares), na Taberna do T' Izelino e no Quintal do Zé Paiva.
Nesta imagem, tirada no Quintal do Zé Paiva e divulgada por Pedro Teixeira Neves no Facebook, estão os autores Jaime Rocha, Marta Chaves, Pedro Teixeira Neves, Henrique Manuel Bento Fialho, Vasco Gato e Catarina Neves de Almeida. Do cartaz inicial, falta na fotografia o poeta Miguel de Carvalho e o autor m. parissy ausente por motivos profissionais.
Consta que as leituras em público correram muito bem e que, no fim daqueles dois dias de poesia, qual ritual dos velhos pescadores e de outros adoradores que sinalizam o respeito, juntos foram dizer Boa Noite ao mar.

11.4.19

Nazaré.Poesia.Abril - Encontros 2019

E no fim-de-semana da Páscoa, os poetas voltam à praia. Na programação dos 80 anos da Biblioteca da Nazaré, arrancam anualmente (assim se espera) os encontros «Nazaré.Poesia.Abril».
Três dos poetas haviam sido  «Poeta do Mês» na BN: Miguel de Carvalho em Janeiro; Pedro Teixeira Neves em Fevereiro; Henrique Manuel Bento Fialho em Março.
Ao longo do ano haverá outras novidades para celebrar os 80 anos da Biblioteca da Nazaré.

19.2.19

Nos 80 anos da Biblioteca da Nazaré

A Biblioteca da Nazaré (BN) comemora este ano 80 anos. Foi no dia 2 de Abril de 1939 que o escritor Branquinho da Fonseca e o Dr. José Maria Carvalho Júnior (que desempenharia durante mais de 20 anos o cargo de Director da Biblioteca) fundaram a BN para «promoção por todos os meios ao seu alcance, da cultura e do gosto pela leitura».
Nas comemorações ao longo deste ano destacam-se os Encontros Nazaré.Poesia.Abril. Começaram em Janeiro, com o poeta, livreiro e editor Miguel de Carvalho, seguirá em Fevereiro com o poeta Pedro Teixeira Neves.
Sessões na sede da BN, entre livro e leituras, perguntas e conversas entre leitores e autor. Encontro «Poeta do mês» repetirá em Março e, até ao final do ano. Para Abril, prepara-se um longo programa literário.

18.1.19

Um cronista com a praia em fundo

As suas pequenas histórias em que a Nazaré serve de palco, mostram que José do Carmo Francisco é um escritor e cronista com uma magnífica caneta. Recorre-se da memória para escrever e por isso, pode dizer-se que esse olhar muito contribui para definir alguns dos traços da sociedade nazarena. José do Carmo Francisco nasceu em Santa Catarina, concelho das Caldas da Rainha, em 1951. Foi bancário, juiz social no Tribunal de Menores, jornalista, colaborador e redactor de revistas e jornais (Revista Ler, Diário Popular, A Bola, Jornal do Sporting,...) Ao longo da infância e juventude viu as mulheres que vendiam peixe nas Caldas, conheceu gente da Nazaré, foi à praia, enfim, um verdadeiro paleco que bebeu água da fontinha e ainda hoje conta coisas sobre a praia. Basta consultar o blogue onde escreve. Estão lá a «Elvira que foi amiga de minha mãe ...com a Tia Rosa e com a Tia «Barrila» vender o peixe em canastras que guardava na adega da casa da minha avó», «um grupo de músicos da Nazaré toca jazz de Nova Orleãs em Proença-a-Nova.», o futebol visto «na Nazaré, algures por Julho de 1997 que eu descobri que os árbitros deixaram de ser influentes para serem decisivos.», as pessoas que conheceu «No frio da noite a sopa de baleia é um conforto para o estômago. A palestra de Laborinho Lúcio foi uma poderosa revelação...», e tantas, tantas outras que nos perdemos a clicar uma atrás de outra história. 

O Mundo é pequeno e o acaso é grande: a Ana Maria que vem todos os dias da Nazaré para Santa Catarina, é sobrinha da Elvira e prima do Fábio e do Mauro, dois excelentes músicos nazarenos que são amigos do meu primo Luís Almeida, também músico. Meu pai (José Francisco) está muito bem entregue e nós os filhos podemos dormir mais descansados. A sombra de Elvira («amiga da alegria») continua a proteger quem enfrenta os dias com um teimoso sorriso nos lábios. Somos alheios aos desabafos antigos que chegaram ao nosso tempo («O estipor de vida que eu levo!») mas atentos ao bem disposto exclamativo perante uma coisa insólita, inesperada e inverosímil: «Só se está pardinal!» Na Nazaré tudo é diferente: pardinal quer dizer «com os copos» e a rosa divina é o «sol». E estipor é «estupor», claro.

blogue de José do Carmo Francisco

28.12.18

Gaivotas e falcões do Sítio





Diz-se que uma imagem vale mais que mil palavras. Como se dá conta nesta Escrita da Praia, muito já se escreveu com os olhos postos na Nazaré, no Sítio ou na Pederneira. Agora há um livro que tem mesmo matéria de luxo para os olhos. Sobretudo aqueles que olham o promontório e não conseguem ver tudo. As aves que o sobrevoam. O livro «O Sítio dos Falcões - Histórias de Sobrevivência» é um álbum de fotografias de Eduardo Barrento que acaba de ser apresentado na Biblioteca da Nazaré. O autor acompanhou durante cinco anos o falcão peregrino, o falcão peneireiro e as, tão vistas mas pouco descobertas, gaivotas. O resultado deste trabalho é um livro com «muita pesquisa envolvida, a nível de rotinas, comportamentos, limites e riscos. São muitos meses de observação, muita paciência...» diz o autor ao jornal Região de Cister. Na notícia dá-se conta de que a paixão de Eduardo Barrento pela Nazaré, o levará a editar outro livro mas, com fotografias das ondas da Praia do Norte.

O Sítio dos Falcões
Eduardo Barrento
ed. autor, 2018
(pedidos para: eduardo@barrento.com)

27.12.18

Vozes da praia nas Caldas da Rainha

fotografia de Natacha Narciso / Gazeta das Caldas
Ao longo do ano 2018, o autor e blogger Henrique Manuel Bento Fialho levou ao Teatro da Rainha, nas Caldas da Rainha, dezenas de poetas, editores, leitores,...Uma terça-feira por mês, a plateia encheu-se para ouvir dizer e contar, numa ideia que o Henrique deu o nome de Diga 33. Numa dessas terças, a de 16 de Outubro, ouviram-se dois autores nascido no mesmo lugar, com trajectórias que coincidem, apesar das diferentes obras e idades: Jaime Rocha e m. parissy. Como escreveu o Região de Rio Maior, «ouviram-se histórias com a vila piscatória em pano de fundo. Falou-se também da Tetralogia da Assombração do Jaime Rocha e o m. parissy não revelou a origens do seu nome, mas falou da editora volta d’mar.» A Gazeta das Caldas também deu conta da sessão.

19.10.18

Preso na Nazaré pela PIDE

Já foi cenário de romances, olhar de muitos poemas, mas a Nazaré, como cenário real, tem também muitas histórias por contar. Esta, por ex: no dia 28 de Agosto de 1960, Júlio Fogaça, comunista que disputou a liderança do Partido Comunista Português com Álvaro Cunhal, foi preso pela PIDE quando passeava na Nazaré. Júlio Fogaça foi suspenso pelo partido, logo a seguir. A explicação ainda hoje permanece um mistério.  Porque estaria na Nazaré? Que teria lá ido fazer?
As páginas da revista Visão (18 Out. 2018) dão conta da investigação que o jornalista Adelino Cunha revela no livro «Júlio de Melo Fogaça» que acaba de ser editado com «testemunhos inéditos de Domingos Abrantes, Edmundo Pedro e Carlos Brito ajudam a resgatar a intensa vida de um revolucionário esquecido.» A história já havia sido levantada no jornal Público, a propósito dos amores nas cadeias da polícia politica do regime fascista de Salazar e Caetano.

  Chegaram à vila da Nazaré perto das 13 horas.
  Deixaram os pertences no quarto que alugaram perto do elevador por 33 escudos e foram almoçar numa outra pensão. No domingo, compraram algumas recordações, duas pequenas jarras e uma caravela, mas quando caminhavam na direcção da garagem da empresa Ribatejana para regressarem a Lisboa, por volta das 16 horas, foram intempestivamente surpreendidos pela PIDE em plena calçada.
  Sílvio da Costa Mortágua, Manuel Lavado, Fernando Gaspar, Augusto Furtado Marques e José Ferreira Henrique Júnior prenderam Júlio de Melo Fogaça no dia 28 de Agosto de 1960. Estes agentes da PIDE prenderam assim um dos mais importantes (e ignorados) dirigentes comunistas portugueses do século xx.
  Como se explica o sucesso desta improvável emboscada policial, ao fim de 14 anos de perseguições falhadas, ainda que descontínuas? Uma operação de considerável envergadura no meio de uma vila que o Diário de Lisboa descrevia nesse mesmo dia como um destino de eleição dos turistas franceses, mas onde as estradas de acesso estavam profundamente degradadas e as automotoras da linha do Oeste nem sequer lá chegavam.
  A manobra da PIDE contou com acções simultâneas em Lisboa e cumpriu na plenitude o seu objectivo, ou seja, neutralizou, não apenas política mas também socialmente, um dos mais relevantes dirigentes do PCP em funções na década de 50.
  Os agentes da PIDE em momento algum hesitaram na identificação do alvo. 
  Sílvio Mortágua reconheceu facilmente Júlio Fogaça na Nazaré, «por saber que andava fugido à acção desta Polícia, por ser membro do comité central do chamado Partido Comunista Português e fazer parte da sua Comissão Política e do seu Secretariado». Levou-o para a esquadra da PSP local com a ajuda dos outros elementos da PIDE.

Júlio de Melo Fogaça
Adelino Cunha
Desassossego, 2018

2.6.18

Zé Petinga, o homem que não pára de escrever

«Esta é a verdadeira história de Zé Petinga, o homem que não parava de escrever». A imagem assim escrita por Henrique Manuel Bento Fialho, no início de uma das histórias do seu mais recente livro, é o mais fiel, simples e absoluto retrato do Zé Petinga. Nada mais se poderá dizer dele, pelo menos quem se cruza com ele nas esquinas e ruas da Nazaré. Henrique, no entanto, revela mais. E faz dele personagem até de uma outra história que contracena com Taranta (quem é do Sítio reconhece o nome). Mas é na página 227 do livro «A Festa dos Caçadores» que está este «amante de baronesas a tempo inteiro». Não uma biografia completa, é somente um relato com expressão do que o homem pode ser. Um breve diálogo e destreza de imaginação, um lirismo que compromete todos os seus amigos, uma vida contada sob um nome, mas que tem vários mundos lá dentro. De resto, vale a pena ler as mais de 330 páginas deste livro escrito por um autor que também erra pelas esquinas quando o vento o empurra até à praia. Henrique gosta de beber vinho com letras, gosta da Biblioteca da Nazaré, gosta. E aquele que continua sem parar de escrever também por lá anda. Sabe-se que tem apenas um título publicado na extinta editora non nova sed nove que sobreviveu uma vintena de anos a olhar p´ró mar.

Sabe-se que mordeu o isco da palavra como um peixe incauto morde a minhoca. Ficou com a garganta presa ao anzol das letras. A toda a hora o Zé Petinga escreve, escreve, escreve e redemoinha sobre o que escreve escrevendo.Tem milhares de páginas manuscritas, arrumadas em caixotes que lhe atafulham o quarto onde já nem dorme só para poder continuar a escrever. Vive sozinho com os seus caixotes de palavras, frases inteiras, poemas, contos, páginas sem nexo aparente, saídas dos dedos ao ritmo da água numa nascente.

A Festa dos Caçadores
Henrique Manuel Bento Fialho
Abysmo, 2018  

5.5.18

Cantar o Canto de Mar

Há livros que vão ser cantados, peças que sobem ao palco, fotografias que mostram o passado. E há mais nas Marés de Maio que arrancam hoje na praia. Um grupo de trabalho tem preparado para este mês diversas actividades culturais. Destaque para o espectáculo do dia 18 de Maio, em que o grupo Safra parte da antologia de poesia sobre a Nazaré Canto de Mar, editada pela Biblioteca da Nazaré, para uma aventura musical onde a palavra em forma de poema é dita, não cantadaCinco músicos em palco convidam o espectador a viajar pela Nazaré, nas palavras de vários autores, acompanhadas de música instrumental originalmente criada para o espectáculo: João Quintino, bateria; Cláudio Magalhães, guitarra eléctrica e teclas; Rui Arroja, baixo eléctricoTânia Calhaço, leitura; e Filipe Vidal, leitura, guitarra acústica e teclas.

SAFRA
18 de Maio, 15h
Teatro Chaby Pinheiro
Sítio da Nazaré

31.3.18

Tradição e História


Do Monte de São Brás ao cimo da Serra da Pescaria, houve desde sempre uma vontade dos que defendem a história do lugar onde nasceram, em escrevê-la. Contar o que vem detrás. É o que é este livro de poucas páginas, para uma história que começa no séc. XVI e rapidamente chega aos nossos dias. José António Caneco era um dos interessados na história, acérrimo defensor das tradições locais. Para quem procura uma espécie de breviário do que foi e é a praia, este é um volume perfeito para ler. Ali está a história da formação da Nazaré com os Ílhavos, a autoridade que a mulher impôs na casa de família, as artes de pesca, os barcos, o desenvolvimento da sociedade. E contam-se pequenas estórias de que o autor tanto gostava de ouvir. De leitura fácil, sem rodeios.

(...) Tendo por prato forte o badejo, previamente escalado e salgado - tal como o bacalhau - e cozido com batatas, a festa corria sempre animada com cantares à desgarrada ao som de instrumentos musicais e improvisados (pinhas, cântaro, abano e garrafas com garfos de ferro),
O azeite e o vinho corriam a jorros para as travessas, pratos e copos, depositados sobre as esteiras, onde, sentados no chão, ou recostados sobre os cotovelos, os convivas iam deglutindo a seu bel-prazer, à mistura com descantes e uma ou outra dança desatinada.(...)

Nazaré - Tradição e História
José António Caneco
recolha de textos de Fernando Barqueiro
ed. CM Nazaré, 1999